Encontro em Treviso

O agente Maldini aproxima-se do kalmarense. A vila era ainda frequentada por muitos militares triestinos e starianos que ainda não tinham regressado a casa depois do desmantelamento da base triestina de Torino. Ninguém estranhava portanto quando se ouvia alguém segredar ou a fazer algo suspeito. Era a norma na pequena vila.

Maldini aproximou-se e convidou o agente a entrar no edificio da Junta.

- Temos um convidado - disse a uma rapariga que estava numa secretária à entrada.

- Com certeza, não serão incomodados.

Subiram por umas escadas estreitas até um gabinete pequeno, com vista para um jardim público. Maldini ligou um pequeno interruptor escondido atrás de uma prateleira repleta de livros.

- Um bloqueador de sinal... agora podemos falar à vontade.

- Estou aberto às vossas propostas. Que têm em mente?

- Como vai descobrir, sou um homem muito prático. Abre-se uma nova era nas relações internacionais. Temos que eliminar o velho conceito de socialismo contra capitalismo e apercebermo-nos de que neste momento o mundo se divide entre países democráticos e ditaduras imperialistas. É nesses termos que temos que pensar, as relações entre os nossos países têm que ser reatadas o mais rapidamente possivel e Kalmar certamente que se decidirá pelo lado dos países democráticos, certo?

- Estou de acordo no que toca ao combate aos imperialismos. Sempre foi essa postura kalmarense. E é de facto interesse da União de Kalmar aproximar-se da URS, contudo não podemos ignorar o passado. Há uma história entre os nossos países que tem de ser limpa e clarificada antes de darmos mais passos em direcção a uma aproximação entre os nossos países. Eu sei que sabe do que falo.

- Isso são questões periféricas. Ponha os nossos ministros da economia numa sala que ele resolvem o assunto. Não vamos pôr em causa a nossa estratégia global por causa de uns problemas com uma empresa. Falemos de um ponto importante, parece que está a haver uma reunião em Cruz de Cristo, e esse é precisamente um dos países que está na nossa lista negra...

Kahuna não gostou nada da forma como foi ignorado na questão da Philips. No entanto tinha ordens para não perturbar o encontro com questões de orgulho. Já havia a experiência do encontro da Islândia. Engole um sapo e prossegue:

- Não serão questões periféricas como diz. Mas, como diz, podem ser questões de fácil resolução. Não lhe sei dizer que planos tem o Império da Cruz da Cristo, para além dos que são evidentes à comunidade internacional. Posso-lhe dizer no entanto quais são os planos da UK. Estamos reunidos em Nova Lisboa para a discussão de uma possível aliança que englobará os países que estarão lá representados. Nunca será da vontade kalmarense uma aliança ofensiva, não seremos condicionados por governos estrangeiros. O objectivo da União de Kalmar é sair de lá com uma aliança defensiva, que nos permita ter uma segurança assegurada. Contudo há o reverso da moeda. Isto pode aproximar-nos da esfera de influência romana, o que não faz parte dos nossos planos. Por isso estamos aqui hoje. É vontade da União de Kalmar começar a preparar terreno para uma cooperação com a URS, contra Roma.

- Como disse, se quisermos estabelecer o cenário democracia vs ditadura, então tenho que lhe dizer que Cruz de Cristo está no mesmo barco que Roma. Esses países todos não deveriam estar reunidos em Nova Lisboa, mas sim em Valtland. às vezes pintam-nos como demónios, mas o uso da força é necessário. Se queremos que uma nova aliança global nasça, terá que ser sem Cruz de Cristo. Falei directamente com o Conselho antes de vir para aqui. Estamos de portas abertas aos países da OCDE para qualquer colaboração a nível defensivo. E certamente vocês conseguiriam atrair para esta esfera a Peterandia, tal como nós atrairemos a Burgolavia e Lusitia.

- Naturalmente que se esta aproximação à URS se materializar, abandonaremos os planos que envolvem o Império Cruz de Cristo. No entanto devo-lhe comunicar que não é do nosso interesse uma aliança efectiva. Chamaremos-lhe de uma partilha de interesses. Repito, os nossos dois países têm uma história, não só económica, devo sublinhar, que não deve ser ignorada. A opinião pública não iria aceitar uma mudança tão brusca. Fui enviado a esta reunião com o objectivo de preparar o terreno para que os nossos países possam retomar o caminho para uma relação e comunicação saudáveis. No futuro, se se provar que a URS e a UK podem ser nações amigas, concerteza que equacionaremos uma aliança formal. Para já, desejamos evitar esse compromisso.

Deixe-me acrescentar, em relação à possível influência sobre Athaulphia e Peterandia, que neste momento a União de Kalmar não tem qualquer influência sobre Peterandia. Em relação a Athaulphia, é óbvio que temos uma relação previligada, mas já provou ser uma nação com ideias muito fixas em relação à sua defesa e poderá criar bastantes entraves a uma possível aliança no futuro. Contudo, acredito que partilha do interesse kalmarense em aproximar-se da URS.

- Na nossa opinião, a Peterandia seguirá o rumo dos países da américa do norte. Mas façamos então planos concretos. Pelo que sei o Kristjc está em Athaulphia a preparar a reconciliação entre a União e Kalmar. Mandem o vosso ministro da economia a Valtland, que a situação da Philips ficará esclarecida.

Quanto à questão de manter Roma à distância do Panamá, que é sem dúvida para lá que eles apontam, e a aproximação a Angelcynn vai nesse sentido, vemos uma forma bastante eficaz de o fazer, e que foi sugerida pelo próprio ministro da economia da União. Privatizar o canal, através da criação de uma empresa privada, com a participação dos países que Kalmar achar que devem participar, e a URS adquirirá uma percentagem dessa empresa, digamos uns 10%... aí os romanos estariam a atacar interesses da União, e isso seria algo bastante grave num mundo polarizado, que os romanos não arriscariam...

- Essa hipótese terá de ser considerada pelo meu governo. Como calcula, não lhe posso dar certezas, mas comunicarei essa proposta e receberão uma resposta o mais brevemente possível.

Quanto à Philips, essa notícia será recebida com muito agrado em Estocolmo.

Se me permite, queria esclarecer ainda um ponto relativamente ao Império da Cruz de Cristo. Como encararia a URS o facto da UK integrar a possível aliança que está a ser discutida em Nova Lisboa?

edit: O 3º parágrafo foi acrescentado.

- Seria um entrave enorme nas nossas relações. Segundo sei Cruz de Cristo está a tornar-se numa pedra demasiado grande no nosso sapato, principalmente se a Burgolavia entrar para a IS. E vou-lhe fazer uma confidência, o Conselho planeia reunir em Valtland algumas nações para discutir precisamente Cruz de Cristo. O meu conselho: façam figura de corpo presente, mas não se comprometam com nada.

ooc: Ficamos por aqui, o resto continua mais tarde?

Os dois agentes parece já ter esgotado a conversa e abandonam o edificio separadamente. "Mais fácil do que pensei" reflectiu Maldini quando o kalmarense saiu da sala.



ooc: sim, agora é Athaulphia organizar a nossa reconciliação e apareceres naquela reunião. Entretanto podemos combinar um encontro entre os ministros da economia