Operação Véspera

Parte I

Nova Lisboa

Jonas era um quadro sénior do Serviço Imperial de Informações.
A sua folha de serviços já era longa e detinha registos de operações de campo um pouco por todo o mundo, formação de agentes juniores e direcção de operações.
Detalhes não faltavam, embora pouca gente soubesse o seu verdadeiro nome e mesmo a sua data de nascimento. Havia pelo menos umas oito diferentes e nenhuma delas verdadeira.
Depois de ter estado uns anos ligado a informações domésticas, fora novamente colocado na formação de agentes.
E o primeiro serviço que lhe foi atribuído chamava-se Carlos.
Um jovem que chamara a atenção ao serviço dos Comandos Cristianos.
Os serviços Secretos têm necessidade permanente de renovar os seus quadros. E a urgência de certas operações a tanto obrigam.

No sul do Império, o elemento étnico diferente sempre fora fonte de conflitos.
Historicamente, a nação índia de Sonora era originária do continente e conseguira manter até ao presente a sua identidade própria, apesar das investidas do colonizador do velho continente, oriundo de Roma.
Apesar da maioria dos Sonoros estar bem integrada na sociedade Cristiana, sempre persistiram movimentos independentistas, com períodos de acalmia alternando com violência terrorista.
Ultimamente, havia movimentações que indicavam um aumento da actividade terrorista no sul e que eram fonte de grande preocupação. Alguns actos de ameaça a interesses económicos e vandalismo já eram frequentes.
Mas, em Outubro, dois assaltos profissionais a comboios da Federação do Comércio, contendo armas e munições destinados ao exército, que foram roubadas, despoletaram uma reacção do Poder Imperial que prometia ser violenta.

Jonas fora incumbido de falar com os chefes da Direcção dos SII de Santa Cruz. Havia interesse em ter a direcção regional à frente das operações e a mais valia que ofereciam era o facto de terem formandos no seu campo de treino de Dédalo com pontuações muito altas.
Quem mais se destacara era Carlos. Jonas foi incumbido de recrutá-lo, convidando-o a abandonar o exército e a juntar-se aos serviço secretos.
A excelente pontuação na recruta e no Curso de Comandos, aliado ao facto de ser natural do sul, filho de pai índio, determinou a sua escolha para a operação que se desenhava.
O furto de armas e munições fazia temer novos ataques. E o treino no sul era importante: dava conhecimento do terreno que era essencial a qualquer agente de campo.

A primeira operação de Carlos foi trazer um dissidente de Triestin para o Império.
Para tal, fora levado clandestinamente para aquele país e ali estabelecera alguns contactos que lhe permitiram chegar ao dissidente político e trazê-lo para Cruz de Cristo.
O que ele não sabia era que o dissidente nunca sairia de Triestin e que era apenas uma forma de descobrir um agente inimigo infiltrado no MNE Cristiano. Jonas lançou a informação em Nova Lisboa e depois controlou todos os que sabiam.
Assim, quando Carlos quase não conseguiu escapar com vida, descobriu-se que alguém avisara Triestin e quem era. Quando já estava perto da fronteira marítima, foi perseguido pela polícia e teve de separar-se do dissidente, que nunca mais voltou a ver. Só conseguiu escapar porque teve inspiração para se fazer passar por bêbado num bar, tendo enfiado a cabeça numa sanita para vomitar e não ser reconhecido pela polícia.
De regresso a Nova Lisboa, Carlos estava confuso e percebeu que tinha sido usado, quando Jonas lhe disse que tinha passado o 1º teste.

De regresso ao império, Carlos foi incumbido de se dirigir para sul e arranjar uma cobertura que permitisse passar despercebido o seu verdadeiro objectivo.
Ligou para Jonas, para se despedir e confirmar o nome da operação.
- Jonas? Estou da saída.
- Adeus meu caro. Boa sorte.
- Contigo só mesmo com sorte, ou ainda me lixo, como em Triestin.
- Não digas isso, passaste com distinção.
- Pois. Vai-te catar, seu sacana, quase morri sozinho e só servi para apanhar um bufo em Nova Lisboa.
- Estavas mais acompanhado que julgas...
- Sim, sim. Então e como combinamos?
- Véspera. Tem que ser na véspera.
- Adeus.
- Vai com Deus.

Assim, Carlos arranjou uma boa máquina fotográfica, boas objectivas e um cartão de imprensa. Seria fotojornalista ao serviço do Jornal O Século, de Nova Lisboa, e vinha ao sul para uma extensa cobertura fotográfica da nação índia de Sonora.
Hospedou-se num pequeno hotel do centro da cidade de Machico, capital da província da Beira, conhecido por alguns como a parte oriental de Sonora, criou uma rotina diária e esperou por uma oportunidade.

Machico, capital da província da Beira

Tinham já passado duas semanas e Carlos ainda não tivera resultados. Procurava um elo de ligação com alguma das facções terroristas de cuja existência se suspeitava já há algum tempo. Havia até um nome que era recorrente: o Chefe Adama. Este nome não constava de bases de dados e era notoriamente nome de guerra de algum destacado membro da comunidade Sonora.
Sabia que tinha de chegar perto desse homem, descobrir-lhe a identidade e, caso se confirmasse a sua importância, eliminá-lo. Não havia era maneiras fáceis, já que o povo Sonoro não é conhecido por ser ingénuo.

No início da terceira semana, Carlos soube que os chefes locais, apesar de manterem as suas crenças e curandeiros, algumas vezes procuravam um médico para as suas maleitas mais persistentes. Seria um modo de descobri-los: através do médico ou médicos que os recebessem. Talvez houvesse algumas feridas de guerra. Mas tinha que o fazer sem quebrar o sigilo médico, uma ordem judicial dava sempre nas vistas.
Uma bela manhã, finalmente o que pretendia. Ia com frequência aos correios ver quem lá ia entregar e receber encomendas. E resolveu esbarrar com uma belíssima rapariga que costumava lá ir buscar remessas de medicamentos.
Como a fez deitar ao chão as cartas, meteu conversa com ela e logo confirmou que era uma enfermeira de Machico.

- Posso pagar-lhe um café, como forma de pedir desculpas?
- Ah, obrigado, mas estou com um pouco de pressa.
- Posso ajudar em algo?
- Só se for médico, estamos com falta deles há uns tempos e os senhores da metrópole não ligam muito aos nossos pedidos.
- Não, médico não sou, mas posso acompanhá-la e ajudo-a com esses embrulhos. É que sou fotografo do Século e ando à procura de imagens. Ando a fazer um registo do actual povo de Sonora e em que condições vive.
- A sério? Que engraçado. Sim, venha. Vamos ver se é um fotografo a sério e vai mostrar as coisas como elas são.
- A propósito, chamo-me Ricardo – diz Carlos, com um sorriso.
- Catarina, prazer.

E seguiram a pé até ao hospital, enquanto ele lhe mostrava umas fotos com nativos de Sonora:

A vida em Machico era relativamente normal.
Mas no interior da província da Beira, já era mais complicada.
Parece que há sempre a tendência de deixar os povos conquistados à sua sorte.
O Norte, mais povoado por cristãos, mais industrializado, não trouxera o desenvolvimento das grandes estradas, ferrovias e outras estruturas mais modernas. Continuava a haver apenas 3 linhas de comboio para as principais cidades e pouco mais. No interior, as estradas nem eram de alcatrão. A principal actividade comercial era o turismo, explorado por empresas cristianas.

Assim, quando o comboio da Federação do comércio foi assaltado, os nativos não se sentiram muito bem quando apenas o exército Cristiano lhes pareceu dar mais atenção, tornando-se mais activo, com patrulhas permanentes e picadas no interior.

Os protestos tornaram-se, esses sim, mais frequentes.

Oeste da Província da Beira



Um pequeno comboio de APC’s circulava numa estrada secundária, dirigindo-se à base, depois de um dia de patrulha por várias aldeias.
Subitamente, sem que nada o fizesse esperar, uma mina rebenta por debaixo do veículo que comandava a patrulha.
Reacção imediata, os restantes membros da patrulha assumem posições defensivas, tentando minimizar os efeitos de uma emboscada, que pode estar iminente.
Mas não têm tempo de reagir: logo que alguns soldados Cristianos deixam a segurança dos veículos, são atingidos por alguns disparos de morteiro. E logo se ouvem gritos de dor.
Finalmente os APC’s conseguem disparar tiros de resposta e os restantes militares conseguem finalmente estabelecer um perímetro de segurança, enquanto se começam a contar as baixas...

Carlos travou amizade com Catarina.
Esta mostrou-lhe os meandros da pobre assistência hospitalar e logo lhe começou a contar mais em detalhe a vida dos nativos.
Carlos percebeu que havia um médico que, ocasionalmente, fazia visitas ao domicílio. Não era normal, atendendo às filas de espera e marcações com 5 ou 6 meses para cirurgias.
‘Só pode ser alguém importante e que não pode ou não quer expor-se vindo ao Hospital’, pensou.
Foi confirmar com Catarina, perguntando-lhe quem era o generoso médico.

- É o Dr. Manuel Marques, é o mais experiente médico-cirurgião e sempre teve a generosidade de visitar os que não podem vir ao Hospital.
- Ele visita muita gente?
- Actualmente não, apenas uns idosos e o Senhor Adama, que é inválido. Normalmente recebe uma chamada e marcam uma consulta.

E Carlos tratou de seguir o bom doutor, resistindo à tentação de visitar os soldados feridos do atentado. Não fosse algum conhecê-lo...

As coisas estavam muito agitadas em Machico.

Carlos ia tendo oportunidade de fazer muitas fotografias à conta do seu disfarce de jornalista e podia observar os bloqueios da Polícia na cidade e os do Exército no campo.



Enquanto o fazia, ia verificando percursos e engendrando uma forma de completar a operação.
A melhor forma seria através do dr. Marques. Só faltava confirmar que era mesmo o líder dos terroristas que já se haviam manifestado com o primeiro ataque em décadas.
Carlos havia seguido o médico e tinha-o visto chegar a uma vivenda abastada, com uma grande área de jardim, vedada e com câmaras de vigilância.
Esse Adama não era um “inválido” qualquer.

Jonas e uma equipa de operacionais da Secreta chegam a Machico. Vêm monitorizar a operação planeada semanas antes.
Depois de se instalarem numa casa segura, Jonas começa a procurar Carlos, alias “Ricardo”, com quem não contactava desde que este saíra de Nova Lisboa.
Ele não estava à espera do que ia encontrar.
Carlos e Catarina andavam a namorar e passavam praticamente todo o tempo juntos. Dormiam de manhã, depois de terem passado a noite a fazer amor intensamente.
Jonas encontrou-os num café a namorar e resolveu apresentar-se como colega e editor chefe do jornal onde “Ricardo” trabalhava.



- Meu Caro, prazer em ver-te.
Carlos fica surpreso, não esperava ver Jonas.
- Olá...?!
- Olá, deixa-me apresentar-me a esta linda senhora. Duarte, encantado. Somos colegas no Século.
- Encantada, responde Catarina. Diga-me, conhecem-se há muito?
- Sim, há uns anos. Este rapaz promete. Tem um apetite especial por aventura...
- Então, o boss esqueceu-se de me dizer que vinham ajudar-me?
- Sim, Ricardo. Tentámos falar-te, mas parece que andas ocupado...

Enquanto os motins se agudizam, Jonas e Carlos conversam na rua e acertam agulhas. Carlos põe Jonas a par do plano:
- Eu tenho um plano para o Adama.
- Conta.
- Há um médico que o vai ver... Quando lhe telefonam. Acontece uma vez por mês, pelo menos. Esse Adama tem uns 60 anos e algumas feridas de guerra. Não anda de cadeira de rodas, mas consegue que um médico o vá ver a casa...
- Não quer ser visto. Já suspeitávamos... (OOC: Ver Intriga Palaciana).
- Foi o que pensei. A Catarina parece não saber muito, mas disse-me isto. Também me disse que o médico teve os pais assassinados e que nunca se descobriu quem foi... Se lhe disser que foi o Adama, colabora connosco. Mete um veneno indetectável no estetoscópio e só tem que lho esfregar no peito. Morte em poucas horas e não é detectável numa autópsia normal. Vai parecer de doença. Assim, evitamos uma revolta nas ruas.

Jonas encontra-se com Carlos numa doca. Tem novidades:

- Olá Jonas, estou a postos. Vou agora ter com o médico e falar-lhe no assassino dos pais...
- Sim, OK. Carlos... A que ponto confias na Catarina?
- Não a vejo envolvida em nada...
- Apostavas a tua carreira?
- Sim, porquê?
- Porque a tua menina, que andas a comer, tem um passado muito activo nas lutas estudantis de 90...
- Foda-se, tás a brincar comigo? Invejoso?
- Antes fosse, ela é bem boa, mas o caso não é esse. Por isso, meu Carlos ingénuo, só em caso de alguma coisa correr mal, temos uma equipa de mercenários da Federação do Comércio – vê lá tu que até são estrangeiros – preparados para o plano B... Como são estrangeiros, não será fácil ligá-los ao Governo. Portanto, se falhas, eles rebentam com tudo com um simples míssil. Com a puta da confusão que aqui vai, já não fará diferença.
- Ó meu, vai resultar.
- É bom que resulte. Já sabes qual é a alternativa.

O homem estava sentado, ou, melhor dizendo, enterrado na cadeira.
Sentia-se invadido por uma sensação nova. Misto de alívio e revolta. Alívio por saber a verdade e revolta suficiente para querer vingança.
Carlos mostrava-lhe o último documento: uma fotografia do assassino dos seus pais. Tinha-lhe falado de como era agente da policia à paisana e que andavam a investigar Adama há muito tempo.
- Posso ajudá-lo, sabe?
- Como? – responde-lhe o dr. Marques - Tenho visitado este homem há tantos anos. Está bem guardado. Tem homens bem armados. Nunca suspeitei...
- É fácil. Basta esfregar-lhe com isto.
E mostra-lhe um pequeno frasco de vidro com um líquido incolor.
- O que é?
- Um pequeno veneno que faz milagres e simula um ataque cardíaco... Tem tempo de ir lá e sair antes que aconteça.
- Não sei se serei capaz! Eu fiz um juramento para ajudar pessoas.
Pense que este homem tem uma longa carreira criminosa... E irá matar muito mais gente. Estará a salvar muitas vidas...

Manhã.
Carlos está num carro com o dr. Marques. Acertam as últimas agulhas.
- Só tem de humedecer o estetoscópio e passar-lho no peito e costas, para absorver. Veja lá se não lhe toca com as mãos.
- Sim, sim.
O médico estava muito nervoso. Era um homem pacífico. Mas estava determinado a vingar os pais cruelmente assassinados à machadada.
- Depois, só tem de se vir embora como se nada fosse. A consulta é já amanhã. Vá, sabendo que estarei por perto para o ajudar a sair se estiver muito nervoso.

Carlos separa-se do médico e pára numa cabine telefónica. Liga um número decorado e diz:
- Estamos na véspera.

Dia seguinte.
08:00 - Um terraço num prédio em Machico.

Jonas está preocupado. Existe uma anormal movimentação de população deslocando-se para o centro de Machico. Um dos mercenários da Federação do Comércio, um peterandês, comenta com Jonas:
- Vai haver mais uma manifestação, mas esta parece que vai ser concorrida...
- Sim...
Jonas só pensa que a confusão pode impedir que o médico chegue ao local da operação. A polícia organizou bloqueios de estrada.
E toma uma decisão, enquanto pensa que aquela concentração de gente é uma coincidência muito grande ...
- Faça avançar a sua equipe.
- Tem a certeza?
- Sim, rebente com tudo.
E fica sozinho a pensar. ‘aquela gaja, de certeza que foi ela’.

09h00 - Pouco tempo depois.

Catarina caminha pelas ruas, a caminho do hospital, com passo apressado.
De repente, ao dobrar uma esquina, dois homens agarram-na, enfiam-lhe um casaco na cabeça e metem-na à força num carro, que arranca imediatamente.
Entretanto, Carlos estava a seguir o médico com uma pequena mota. Mas o dr Marques não conseguia passar com o seu carro por um controle de estrada, montado pela Polícia.
- Deixe-me passar! Tenho que acudir a um doente. Sou médico!
- Desculpe, mas as ruas do centro estão a encerrar ao trânsito. Vai haver mais uma manifestação..
- Mas é urgente!
- Só passa daqui se for a pé.
O médico decide voltar para trás, pronto a desistir, mas Carlos mete-se à frente dele, obrigando-o a parar e fá-lo montar na mota. E é buzinando e passando por cima de passeios que Carlos tenta levar o médico ao destino.
Entretanto a equipe da Fed.Com coloca-se em posição discretamente perto da vivenda de Adama, que está bem guardada por homens armados com Uzi’s.

09h30
Carlos consegue chegar a poucos metros da vivenda de Adama, quando se vê forçado a parar para não ser visto pelos seguranças que estão na rua.
Olha para o médico e manda-o ir.
O dr. Marques está a suar de nervos. Começa a dirigir-se para a casa e já foi visto pelos seguranças.
De repente surge um camião ao fundo da rua a toda a velocidade e directo à vivenda. O médico estava já à porta e os seguranças que estavam a revistá-lo apercebem-se:
- Dr. vá para dentro imediamentee!
E começam a disparar na direcção do camião, sem saber que leva um índio morto e amarrado ao volante e 500 quilos de explosivos atrás dele.

09h35
Uma forte explosão abala a cidade. Carlos assistia a tudo, incrédulo. Depois de tanto esforço, quase não sobrevivia enquanto via pedaços de corpos e estilhaços a voar em todas as direcções.
Uma enorme cratera fica agora onde estava uma vivenda e um jardim enorme.



Carlos vai-se embora de mãos na cabeça, ferida com uma pedra projectada, enquanto o pânico se começa a instalar nas redondezas da explosão brutal. Só pensa chegar ao hospital.
Ali perto, os operacionais da Fed.Com regozijam-se com os resultados:
- Belo toque, este do índio... Agora é só culpar uns dissidentes quaisquer.

10h30

Carlos chega ao hospital. Procura assistência, mas todo o pessoal disponível está a sair para o local da explosão.
No meio da confusão, agarra uma enfermeira pelo braço e pergunta por Catarina.
- Não está. Já devia ter chegado, mas não está. Desculpe, tenho pressa.
Carlos começa a ficar nervoso e sai ao encontro de Jonas.
Entretanto, no local do acidente, a população vai acorrendo ao local e logo se começa a espalhar um misto de pânico e medo que aos poucos vai dando lugar a revolta.
A equipe da Fed.Com já está longe e o exército regular toma posições para tentar controlar a população que é muita.

No dia seguinte, à tarde

As ruas da cidade continuavam agitadas com bloqueios, controles e alguns motins prontamente atacados pela Polícia e Exército.
Populares gritavam palavras de ordem nas ruas:
- ‘ABAIXO O IMPÉRIO!!’ TIRANOS, VOLTEM PARA O NORTE!
- VIVA SONORA LIVRE!
- MATARAM OS NOSSOS!
E recebiam gás lacrimogéneo e cargas de choque.


Entretanto, no aeroporto local, Jonas prepara-se para regressar a Nova Lisboa. Vai já na pista em direcção ao avião quando vê Carlos.
- Então, já de partida?
- Sim, Carlos. Porquê, tu não? Olha que o nosso trabalho aqui já terminou. Logo que a populaça acalme o nosso trabalho considera-se perfeito. Adama, líder da FLI, mas afinal morto pela FLI, dando-nos motivo para os perseguir...
- Eu tinha conseguido levar o médico, caralho. Só se atrasou 5 minutos da hora marcada.
- Estavas avisado. Atrasou, lerpou...
- Mas agora temos uma revolta. Achas que estes índios acreditam nas larachas que vieram nas notícias?? Os gajos têm-nos pó.
- É uma questão de tempo. Mas ainda ficas ou não?
- Fico mais uns dias. Preciso de encontrar a Catarina. Desapareceu. Por acaso não sabes o que lhe aconteceu... ?
- Não, mas se queres um conselho, eu esquecia-a. Afina, era da oposição.
- Não te pedi conselhos e se queres saber acho que tens alguma coisa a ver com o assunto. Adeus.
- Oi, ó Carlos, não pensas que sou teu amigo?

Carlos vai-se embora e deixa Jonas tomar o avião. Aquela seria a última vez que se veriam.

PARTE II
Nova Lisboa

De regresso à sede dos SII, a secreta Imperial, o veterano Jonas tinha regressado à rotina.
Após dois dias de algumas revoltas, as coisas haviam acalmado no sul, embora com algum sacrifício de vidas, quer no atentado, quer depois, nalguns motins que o exército reprimiu.
Carlos continuava sem dar notícias e os serviços de Machico haviam-lhe perdido o rasto.
Jonas não conseguia deixar de pensar que Carlos podia bem ter-se tornado num radical livre...
O telefone toca e Jonas é convocado para o gabinete do director geral, Cristiano Stoqueller. Quando entra, a sala está cheia, com o director, mais dois subdirectores, uma secretária e o adido de ligação aos serviços de informação militar.
- Sr. Jonas, sente-se, temos ordens para começar a revisão da operação e há ordens superiores para fazer um inquérito.
- Inquérito, meu caro Stoqueller? Sou alvo de inquérito?
- Não, é apenas testemunha... A não ser que tenha feito algo de mal?
- Não me parece, mas enfim. Força, digam lá.
- Começando a gravar, sessão 1, são 17h00. Entrevista a Jonas. Conte-nos como foi a operação Véspera...

Nova Lisboa – Sede dos SII

Jonas terminara o seu relato sobre a operação e agora perguntavam-lhe sobre Carlos. Stoqueller queria a sua opinião sobre o que achava que tinha acontecido.
Jonas decidiu colaborar.
- Director Stoqueller, o operacional Carlos deve andar a tentar localizar uma mulher com quem se envolveu em Machico. Esta mulher – e estende um dossier a Stoqueller – tem ligações conhecidas com organizações estudantis radicais e pensamos que a sua presença em Machico, como enfermeira, não era inocente.
- Porque diz isso, Jonas?
- No dia da operação, as ruas estavam empacotadas de gente a protestar. E apenas Carlos, eu e os operacionais da Fed.Com estavam a par. Se ninguém falou e ninguém nos conhecia em Machico, resta a namorada de Carlos...
- Mas Jonas, isso era frequente. Digo, essas manifestações.
- Sim, mas não como aquela. Havia organização. As pessoas não estavam simplesmente a partir montras ou a incendiar carros. Iam todas organizadas em direcção ao centro.
- Estou a ver... E essa senhora, que sabemos sobre ela?
- Bem, foi apreendida nessa manhã e levada para um campo de treino dos SII na Costa.
- E não está lá?
- Nunca chegou lá. Julgamos que foi apreendida por agentes estrangeiros. Suspeitamos dos peterandianos.