Operação Véspera

Jonas tinha feito o seu relatório aos SII, dizendo toda a verdade, menos num pormenor: Catarina não tinha sido levada por peterandianos, mas provavelmente pelos índios. Quando a viatura que a levava para um campo dos SII parara para abastecer, ela conseguira fugir, graças a uma diversão criada por populares que obrigou os agentes que a acompanhavam, gente da Fed.Com, a tomarem posições defensivas.
Jonas tinha, por esta razão, confirmação que ela estava envolvida e que se aproveitara de Carlos.
Apesar dos seus esforços, que escondeu dos seus chefes, Jonas não a conseguira localizar ainda. Apenas ele e a sua secretária tentavam obter mais informações.
E Carlos estava desaparecido, mas Jonas ainda não tinha a certeza de que era rapto ou voluntariado...

Um grupo de índios reúne-se numa casa nos arredores de Machico. Tinham reunido várias vezes sobre o mesmo assunto. Algo que faria o Império tomá-los a sério.
Adama estava presente.

Não estava na casa no dia do atentado e estava mais determinado que nunca: só a guerra podia levar a independência ao seu povo.
Ainda chorava a morte do seu pai, que, por azar, estava na sua casa no dia do atentado. Seria vingado, assim como todos os seus companheiros mortos nesse dia infame.
E agora chegava o primeiro momento. Dois companheiros iam para norte numa missão importante. Uma cerimónia tradicional de bênção dava-lhes a protecção de Manitu, o deus índio.

Quando uma bomba explodiu no centro de Santa Cruz, o alarme foi generalizado. Não era apenas a cidade e as vítimas, 30 cidadãos que tiveram o azar de estar no lugar errado à hora certa... Era todo o império que acordava.
Um autocarro vazio, de regresso à estação de recolha, fora desviado por dois índios armados e fizera-se à estrada, directo ao centro, onde acabou em chamas na porta da esquadra central da Policia Imperial. Um suicídio propositado.
O pânico instalado e alguns polícias feridos faria muita primeira página e noticiário televisivo...

Jonas continuava a ser vigiado de perto pelos seus colegas, enquanto continuava a procurar Carlos sem que ninguém soubesse.
A verdade é que andava agora toda a gente distraída com os bombistas suicidas, mas Jonas não conseguia deixar de pensar que estava tudo ligado.
Em Santa Cruz o efeito do atentado foi terrível e muitos cidadãos clamavam por sangue e vingança, depois do anúncio feito na televisão que a culpa era dos índios, mais uma vez.
No sul, as coisas começavam a caminhar para uma guerra civil. O exército andava por todo o lado, violência nas ruas, prisões arbitrárias, tortura, vinganças.

Na senda das últimas semanas, a guerrilha tornara-se extremamente activa. Já não se discutia se havia inimigos do Império ou não, era apenas uma questão de guerra declarada e aberta no Sul. A província da Beira estava a ferro e fogo, com atentados frequentes no Sul e guerrilha no interior, com pequenos grupos dispersos, causando pequenas mas persistentes baixas no exército Cristiano.
Os índios eram aguerridos e já se tinham decidido: já bastava de tortura e prisões. Os brancos eram alvos, todos eles. Uma Nação de Sonora independente ou a morte.
Naturalmente que índios mortos já se contavam aos milhares e os Cristianos nem chegavam a algumas centenas, mas nada parecia já meter medo aos índios.

A gota de água foi a criação de milícias religiosas, organizadas pela Igreja Cristiana. Esta atitude deu ao povo índio o mote: se o Estado e a Igreja eram a mesma coisa, não havia garantias de que quem não fosse cristão fosse protegido e então nem os partidários do diálogo tiveram dúvidas de que havia uma perseguição generalizada.

O exército Cristiano reforça a sua posição no sul e, pela primeira vez, envia regimentos completos. Tanques e outros veículos começam a ser presença frequente.

Também a marinha e a força aérea organizam patrulhas regulares no ar e na costa da província da Beira.

A organização dos militares já começava a dar frutos e a lei marcial impunha um controle apertado. O numero de atentados nos centros urbanos diminui para metade, mas as guerrilhas embrenhadas no interior continuam a dirigir ataques contra colunas militares.
As milícias cristãs, por sua vez, acabam por agir de modo livre e fora do controle dos militares, organizando também eles grupos de contra-guerrilha, organizados por militares cristianos na reserva.

Jonas estava apreensivo. Havia notícias contraditórias de Carlos. Tinha conseguido informações de que estaria prisioneiro, juntamente com Catarina, mas isso não batia certo com as informações da fuga de Catarina. Por isso, sabia que a informação não era inteiramente fiável. Com a situação actual, era quase impossível pedir aos seus chefes que procurassem por Carlos sem assinar a sua sentença de morte. Na dúvida, Carlos seria eliminado. Jonas continuava a acreditar no seu pupilo e não se esquecia das palavras dele da última vez que se viram.
Afinal ainda havia uma ponta de humanidade em Jonas.
Assim, o plano a seguir só podia ser um. Uma operação militar para resgatar Carlos. Ia ser ordenada pelos Serviços Secretos, sem que os próprios Serviços Secretos soubessem. Nada de especial para um tipo experimentado como Jonas.
Ia usar dos seus contactos pela última vez, porque isto ia saber-se. Enfim, há sempre consequências.

Jonas continuava a ser vigiado de perto pelos seus superiores. O Major Fernandes, membro sénior dos Serviços Secretos, não gostava de Jonas e, desde o primeiro inquérito sobre a Operação de Machico, que estava com sérias dúvidas de que Jonas estivesse a contar tudo.
Jonas sabia-o e sabia também que a sua próxima operação ia também ser difícil de ocultar.
Assim, quando Jonas ligou a um velho amigo que agora estava numa empresa privada muito conhecida, procurando saber por fonte externa – para não lançar suspeitas – quem era o comandante militar na Beira, já tinha a perfeita noção de que só assim podia ganhar tempo.
- Jonas há quanto tempo, pá. Quando é que fazemos umas pescarias de fim-de-semana?
- Bem, vai tratando de arranjar uns bons anzóis. Brevemente falaremos.
- Diz-me, que me queres?
- Pá, só queria saber quem faz o comando militar na Beira, sei que tu estás em contacto, por causa dos fornecimentos...
- Humm, andas outra vez a desconfiar que tens bufos aí dentro?
- Pá, depois conto-te.
- Ok, ok, olha, fala com o Coronel Alturas.
- ‘Brigadão, devo-te um almoço!

Assim que terminou a chamada, deixou uns recados para a secretária e saiu para telefonar de uma cabina.

Jonas tinha os seus passos controlados. O Major Fernandes já tinha ordenado que dois operacionais o mantivessem debaixo de olho.
Mas já estava tudo tratado. O timing tinha sido impecável. A informação que tinha já permitia avançar. Carlos estava retido num acampamento de índios e Catarina estaria lá.
Só faltava dar a ordem. E o Coronel Alturas, comandante das Forças operacionais no Sul, recebia uma chamada por telefone via satélite.
- Fala o Coronel Alturas, com quem estou a falar?
- Ordens do Estado-Maior, encriptação de classe 2, a enviar...
- Serviço Secreto? Muito bem, qual a operação?
- Resgate de dois indivíduos, a ordem é para enviar uma equipe de comandos apoiada por hélis. Estão prisioneiros num acampamento de terroristas. A enviar localização e ficheiros pessoais.
- Os homens vão partir de imediato.

Em poucos minutos, uma força de 20 homens e 6 hélis de apoio saía em direcção à floresta, numa zona muito próxima da fronteira com a Burgolavia.

O acampamento era um pequeno forte escondido na base de uma montanha, rodeada de floresta. Um voo de reconhecimento determinou que os Stallion podiam intervir na entrada do acampamento.



Assim, a coberto da montanha, o ataque foi de surpresa. Os comandos avançaram a pé e penetraram no arame farpado do acampamento; dividiram-se em dois grupos de 10, neutralizando os guardas de vigia e avançaram rapidamente para o interior, onde localizaram um pequeno edifício com grades nas janelas. Com facas e armas ligeiras com silenciador, neutralizaram seis homens que montavam guarda.
Carlos estava numa cela, com um aspecto miserável. Tinha sido torturado e apresentava feridas na face. Carregado para fora, o alarme soa, mas já é tarde.
Os Stallion aparecem e dão fogo de metralhadora de alto calibre, oferecendo cobertura à fuga dos militares.
Uma chuva de balas derruba vários inimigos, enquanto os hélis já começam a levantar, disparando mísseis contra as estruturas.
No ar, Carlos só consegue perguntar:
- Como me descobriram?
- Um velho amigo seu manda-lhe cumprimentos e pede para lhe dizer que não era assim tão dispensável - responde o sargento que liderava a missão. E acrescenta: tem companhia no outro helicóptero... Uma senhora que lhe fazia companhia na cela vizinha.

E Carlos percebe que Catarina também havia sido resgatada.

Enquanto os hélis desaparecem no horizonte escuro, em Nova Lisboa, dois agentes dos Serviços Secretos entram no gabinete de Jonas para o deter. As actividades não autorizadas de Jonas haviam sido detectadas.

Estão 5 minutos atrasados.
Jonas acaba de entrar no seu Porsche descapotável e sai do edifício, levando na bagagem um passaporte e alguns milhares em reais, as poupanças que tinha acumulado nos seus anos de serviço.
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OOC: Fim deste RP.