Linha de emergência Athaulphia – URS

(OOC: se não importas, vamos desenvolver isto por conexão telefônica de máxima segurança - principalmente por adicionar um pouco de dramaticidade e originalidade ao assunto)

A conexão com os starianos estava lista. Em Athaulphópolis ainda não sabiam exatamente com quem iam falar, mas não havia tempo para protocolos nem reverências. O Chanceler Miranda tomou a palavra:

- Cavalheiros, já lhes terão informado do motivo de nosso telefonema e das circunstâncias na que nos encontramos. Lamento ter que ser tão direto, mas a situação o exige.

Tossiu um pouco e prosseguiu:

- Suponho que já estão bem informados do que está acontecendo e não precisam que se o explique tudo. Suponho também que já saberão que isto não é nenhuma brincadeira nem outra fanfarronada mais de César. Os romanos não vieram de manobras: neste momento situaram 6 frotas no Golfo de México e o Caribe, repito, 6 frotas completas, armadas até os dentes. Os romanos decidiram empenhar todas suas forças nesta invasão, ou como dizemos aqui, "puseram toda a carne no asador". A força de combate despregada pelos romanos tem capacidade para conquistar a UCA sem dificuldades, e com Roma empenhada ao máximo nesta operação, têm força suficiente para derrotar qualquer resistência tanto de Kalmar como de Athaulphia. Lamento ter que dizer isto, mas não estamos em condições de resistir um ataque romano. Se não obtemos o respaldo de outras potências de maior capacidade que consiga dissuadir aos romanos, temo que América do Norte pode cair em poucos meses, possivelmente em semanas.

Na sala de comando estratégico o búnker da Citánia, onde se encontrava o gabinete de crise, havia um silêncio de cemitério. Miranda o notou quando parou de falar, e esse silêncio lhe estremeceu ainda mais:

- Senhores, devemos fazer saver aos romanos que se seguem adiante podem provocar uma guerra de escala mundial contra poderes que lhes superam. Para isso é necessário que as grandes potências militares, nomeadamente as da IS, lhes advirtam. Ante esse perigo, César terá que retroceder e ser... razoável (se é que essa palavra existe em latim). Precisamos que valorizem a gravidade desta situação, e conhecer sua postura.

Todorov e a sua equipa ouviram Miranda sem interromper. Todorov preferia estar na outra sala, onde Jansen e Bradzienitsch quase que se comiam vivos a discutir a situação.

- Estamos cientes da gravidade da situação, mas antes de aprofundar, deixe-me fazer uma pergunta: Athaulphia e Kalmar pretendem intervir militarmente no caso de Roma concretizar as suas ameaças contra a UCA ou estamos a falar de uma hipotética defesa contra uma agressão romana directa contra Athaulphia ou Kalmar?

Miranda agitou a cabeça antes de responder:

- Senhor Todorov, acho que por desgraça a única diferença entre ambas opções é simplesmente um assunto de tempo, "mais cedo" ou "mais tarde". Sim, podemos intervir se Roma invade a UCA, ainda que seria um suicídio; ou podemos manter-nos à margem e sentar a esperar... até que os romanos cheguem a nossas casas. O único que conseguiríamos seria ganhar tempo... ou melhor dito, perder tempo, porque deixaríamos aos romanos assentar uma cabeça de ponte sólida em América. Do que não temos dúvidas é de que antes ou depois a agressão romana contra nós chegaria, e o relógio corre em nossa contra: se permitimos aos romanos fazer-se com o controle de América Central, teremos uma ameaça direta sobre nossa cabeça, talvez para sempre.

Miranda mirou um mapa na parede e começou a assinalar-o enquanto falava, embora não o vissem em Valtland:

- Uma vez que os romanos obtenham uma fácil vitória contra Batista e se façam com o controle do coração das Américas, não haverá nada que lhes obrigue a marchar. A Athaulphia e Kalmar terão-nos permanentemente na mira de seus canhões, e não lhes seria difícil achatar-nos a seguinte vez que a César lhe dê uma neura das suas; a abertura à democracia e a liberdade em Cruz de Cristo se murchará, com 6 frotas romanas e Deus sabe quantas legiões respirando em sua nuca. E quem sabe o que pode passar-lhe a Burgolavia. O que quero dizer-lhes é que se não conseguimos que os romanos dêem média volta agora, enquanto ainda estão nos barcos, depois será demasiado tarde. Parece absurdo, mas a integridade da UCA pode ser o único que nos separe de uma hegemonia romana em quatro continentes. Não creio que essa seja uma cena da que vocês gostariam.

Fez-se de novo o silêncio enquanto Miranda cruzava as mãos. A seu lado, a Conselheira Loureiro brincava nervosamente com uma caneta; em outra mesa, o Conselheiro Caride (Defesa) e o Marechal Pita estudavam uns mapas, enquanto o Presidente Vázquez se encontrava em outra sala escrevendo um discurso com a ajuda dos assessores da Chancelaria.

Todorov recebe a infrmação de que Putin acaba de chegar a Valtland. As palavras de Miranda faziam sentido, mas a decisão não estava nas suas mãos.

- Compreendo as suas preocupações, são mais que legítimas, e a URS não se colocará em nenhum instante à mercê de um ataque romano. Mas neste momento ainda estamos a decidir o próximo passo, não lhe posso fazer promessas, a não ser de que a URS não deixará a américa do norte cair sob dominio romano.

- Agradeço-lhe sua preocupação, mas faço questão de que garantir a integridade de Athaulphia e Kalmar não é suficiente. Uma invasão romana da UCA não é só uma ameaça para nós, senão também para vocês. O mundo tem estado em equilíbrio até agora porque havia um muro de separação entre Roma e a IS, um muro de estados-tampa, desde o pólo Norte ao pólo Sur: América. Os romanos têm Europa e o Atlântico, vocês têm Ásia Oriental e o Pacífico. Eles são os que mandam em sua zona e vocês na sua: ainda que Vibra e Peterandia não gostem, a supremacia da IS em Ásia é incontestável. E Irlanda e a América romana são mal uns episódios que não representam nenhum perigo real para a outra parte.

Miranda fez uma pausa e continuou num tom mais pausado, mas mais severo:

- Mas se permitem que Roma instale um regime fantoche em América Central os romanos terão uma fachada de 5.000 quilômetros com vistas ao Pacífico, a seu Pacífico; e com 6 frotas estacionadas e quem sabe quantos soldados. Por não falar da instalação de mísseis estratégicos que poderiam fazer, recordem Escócia. Sabemos que vocês não agradam de Batista, e que a UCA pode ser um país pequeno e insignificante para vocês. Mas se permitem que os fascistas se apoderem desse país pequeno e insignificante, depois irão a por outro país pequeno e insignificante, e depois a por outro, e quando se acabem os países pequenos e insignificantes chegará o choque com os grandes como vocês.

Miranda fez uma pausa para beber um pouco, pois estava esquentando. Enquanto olhava a seus colaboradores, e com a mirada lhes perguntava se tinham novidades. A Conselheira Loureiro assentiu, mas Miranda seguiu falando com Todorov:

- É necessária uma estratégia de contenção do fascismo enquanto estamos a tempo, senhor Todorov. Se não detêm aos romanos agora em América Central, amanhã terão que os deter em sua casa. Vocês têm que saber o que é o fascismo: ceder-lhes terreno só servirá para que se sentam fortes e queiram mais. E já sabem que é César: um demente megalómano e sanguinário que atua por caprichos, intuições e arrebatos de loucura. Não é uma pessoa na que se possa confiar. Senhor Todorov, bastaria um gesto firme de vocês para cortar este perigo de raiz. Evitem hoje esta guerra em América e evitarão uma guerra maior manhã em seu país.

Todorov recebia vários mapas e relatórios do SDI enquanto escutava. A estratégia estava definida e a IS faria a sua parte.

- Estamos conscientes disso, Sr. Miranda, estamos bem conscientes disso. No entanto após várias reuniões diplomáticas e muitas horas de análise por parte do SDI, a nossa opinião é de que não é necessário entrar em confronto directo com os romanos para conter esta ameaça. A URS e os seus aliados intervirão de forma a garantir que uma invasão total da UCA não ocorrerá, já temos planos de acção definidos, zonas estratégicas a capturar e já deixámos bem claro aos romanos em que ponto a corda se parte. Aguardamos apenas pelo OK da UCA para iniciar as operações militares para conter a ameaça.

De seguida falou em tom algo irónico. Ainda se lembrava da recusa das bases na Gronelândia e do não de Kalmar às tropas no Panamá, bem como da recusa em controlar politicamente a UCA depois da revolução ou do não reconhecimento da Omã. Todorov atribuia parte da responsabilidade pela actual situação à constante desconfiança dos países da OCDE em relação à URS.

- Caberá aos restantes aliados de Athaulphia, que não tenho dúvida serão alguns e bem poderosos, repelir a restante ameaça, se assim o desejarem. O famoso terceiro bloco, pelo que ouvi falar.

Miranda estava ouvindo coisas das que não gostava:

- De que me está falando? Que significa que não vão permitir uma "invasão total"? e isso de "zonas estratégicas a capturar"?

Miranda tinha captado a ironia de Todorov:

- E sobretudo, em que ponto "se parte a corda" com os romanos, como disse? Falaram já com eles?

Naquela sala estava também o chefe dos serviços de inteligência athaúlphicos, o Diretor Geral do SIS coronel Vicente Ibáñez. Enquanto Miranda falava, rabiscou uma nota que deu ao Chanceler Miranda.

Todorov recebe o último relatório. Estava tudo tratado com os romanos. Apenas as acções da URLC, Peterandia e OCDE poderiam alterar o estabelecido, mas isso já fugiria ao controlo da IS.

- Sr. Miranda, significa que neste momento já será impossível controlar todo o território da UCA antes dos romanos desembarcarem. Eles levam avanço de vários dias e quando as nossas tropas se encontrarem, não seremos nós a dar o primeiro tiro. Espero que este ponto já esteja esclarecido, a URS não entrará em guerra aberta pela UCA. Podemos no entanto oferecer tanto a Athaulphia como a Kalmar garantia de independência, ou seja, o mesmo que Putin referiu no seu discurso. Isto afastará os romanos de qualquer ambição nos países da OCDE, e esses sim, defenderiamos, apesar de vossas excelências não confiarem em nós.

Todorov fez uma pausa de alguns segundos para Miranda absorver esta última frase.

- Zonas estratégicas referem-se a toda a costa do Pacífico e a toda a fronteira com Kalmar, tanto a norte como a sul. Já sabemos que não nos querem no Panamá, por isso encontrem forma de garantir a segurança do território, e a nossa oferta de auxilio manter-se-á sempre em cima da mesa. Sobre a sua última questão, a corda partir-se-á no instante em que os romanos interfiram num destes objectivos que acabei de lhe mencionar.

Miranda leu a nota que lhe tinha passado Ibáñez. Olhou a este com cara de estranheza, mas Ibáñez assentiu, como confirmando-lhe o que punha a nota:

- Senhor Todorov, os romanos ainda estão subidos em seus barcos. Bastaria um ultimatum de vocês, unindo-se à rejeição de outras potências, como a URLC e Peterandia, para que dessem média volta e regressassem a Europa sem pôr um pé em Centroamérica. Vocês o sabem bem: não haveria guerra e vocês não perderiam nada. Não entendo sua posição.

Miranda mentia nesta última frase, porque a nota de Ibáñez lhe aclarava várias coisas. Respirou profundamente e seguiu:

- Falou você de que não permitirão uma ocupação total, do que se deduz que vão permitir uma ocupação parcial, notícia que nos enche de desgosto. Que vão ceder-lhe aos romanos? O Yucatão? Nicarágua? Vão entregar Nicarágua a César?

O tom de Miranda começava a tingir-se de sarcasmo.

Todorov já tinha dito o que queria dizer.

- Vamos ceder aos romanos o que for necessário para garantir a segurança da Internacional Socialista e evitar uma guerra com dezenas de milhões de mortos. Uma nação pacifista como Athaulphia não deve ter dificuldade em entender este desejo.

Depois, já sem conseguir esconder alguma irritação, continuou:

- E não nos trate como crianças, Sr. Miranda, sabemos bem o que temos que fazer e orgulhamo-nos bastante da nossa diplomacia. A única razão porque meio mundo não está já repleto de crateras de bombas romanas é devido ao continuo e exaustivo trabalho diplomático que a União mantém com todas as potências mundiais, e não me refiro apenas a Roma, por isso escusa de nos fazer desenhos sobre o quão grave é a situação.

Miranda apertava os punhos com ira:

- Bem, senhor Todorov, nós também dissemos tudo o que tínhamos que dizer e escutamos tudo o que precisávamos escutar. Se querem repartir o mundo com os fascistas é sua decisão, e Athaulphia tomará as suas em conseqüência. Vocês é que sabem. Boa noite.

E desconectou a comunicação.

Todorov encolheu os ombros para os membros da sua equipa e regressou à sala de reuniões do Conselho.