Encontro Boyd - Pereira de Melo, Estocolmo

O Presidente da Irlanda era aguardando em Estocolmo com alguma expectativa. Não é bem conhecido até que ponto Sam Boyd é independente do Conselho da União, pelo que o sucesso do encontro era uma incógnita. Após ser recebido no aeroporto de Estocolmo com honras de Estado pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros Fontes Pereira de Melo, Sam Boyd, juntamente com o Ministro, e a sua comitiva seguiram, num percurso que percorreu os diversos locais históricos de Estocolmo, para o Rosenbad onde reuniram por alguns minutos com o Presidente Manuel Bragança. Após esse breve encontro, seguiu-se a reunião com Pereira de Melo, para iniciar as conversações:

- Pois bem, caro Presidente. Agora que as apresentações estão feitas, passemos aos assuntos que o trouxeram cá. A notícia da sua eleição para Presidente da Irlanda foi muito bem recebido aqui em Kalmar. Foi uma surpresa saber que um homem de visões diferentes da maioria da população da URS tenha ganho umas eleições de tamanha importância. E sabendo das suas opiniões relativamente convergentes às nossas, não podíamos deixar de aprofundar relações com o seu governo e com a Irlanda. Especialmente agora, que as relações entra a UK e URS estão estabilizadas. Não estou enganado quando digo que tal desejo é recíproco?

- Mais que recíproco. Infelizmente deve imaginar a pressão que sofro todos os dias, basta ver as noticias. Qualquer relação mais profunda com Kalmar, por muito que eu a desejasse, poderá significar a minha queda...

- O meu governo tem todo o interesse em que se mantenha no poder o maior tempo possível. E estamos dispostos a transformar esse interesse em algo concreto. No entanto, teremos de saber quais as possibilidades reais que tem de se manter no poder a longo prazo antes de negociarmos qualquer tipo de ajuda. Estamos bem cientes dos riscos que é investir na URS e não estamos dispostos a tomar os riscos que a Philips tomou ao investir no continente.

- É compreensivel. Infelizmente as empresas estatais na Irlanda são apenas extensões das empresas que existem no continente, o risco em investir nelas seria o mesmo. O objectivo do meu governo é atingir todas as quotas para produtores privados permitidas pelo Ministério da Economia da União. Neste momento são de 10% e na Irlanda faltam-nos 3% para os atingir. A melhor ajuda de Kalmar seia empréstimos bancários a pequenos produtores na área da alimentação. Os empréstimos seria feitos de Kalmar para as contas dos interessados, e o Conselho não pode congelar essas contas sem a minha autorização pessoal, por isso este seria o método de ajuda mais seguro. Assim que os 10% fossem atingidos, seria mais fácil implementar nova legislação em que esta percentagem fosse aumentada. Para além disso, apostar em medidas de aproximação social e cultural era óptimo: intercâmbio de estudantes, fomentação ao turismo entre os dois países, facilidades na aquisição de cidadania e vistos de trabalho temporários... tudo o que possa inclinar a população para o lado do PSD nos tempos dificeis que se avizinham.

- Poderemos atingir esses 10% com os empréstimos de Kalmar. A partir desses 10% seria do nosso interesse que o mercado fosse coberto por empresas kalmarenses após o hipotético aumento da quota, de modo a conseguirmos ter algum retorno por esse investimento que fazemos. Desse modo o senhor não seria acusado de estar a ser manipulado pelos capitalistas, como se adivinha que farão os seus opositores quando as linhas de crédito fossem abertas aos produtores starianos. Isto aliado com a sua proposta de intercâmbio cultural, que é sem dúvida uma óptimo ideia e na qual temos o maior interesse, aproximaria a Irlanda e União de Kalmar.

- Totalmente de acordo, um dos pontos da proposta eleitoral do PSD a longo prazo é precisamente diversificar as ofertas de mercado a outros países, começando pelos da OCDE. Claro que tudo isto terá que ser feito o mais rapidamente possível caso contrário não terei sequer um segundo mandato. Estes pontos que abordámos aqui terão prioridade máxima nos próximos meses, e depois de implementados voltariamos a reunir para discutir os resultados.

- Muito bem. Ficaremos por este acordo para já e reuniremos no futuro para discutir um maior aprofundamento do mesmo. Deseja tratar de um outro assunto?

A reunião é interrompida com a entrada de um assessor de Pereira de Melo. Segreda-lhe algo ao ouvido e este pede lincença a Boyd para se ausentar durante alguns minutos. Regressa dez minutos depois, com uma expressão grave, disposto a correr um grande risco.

- Sr. Presidente, Roma acaba de fazer um ultimato à OCDE, impedindo-nos de interceder a favor da UCA, que está prestes a ser invadida. Este pedido que lhe farei, não o farei de ânimo leve e sei que é algo de extrema importância. No entanto, faço-o por sentir que o sr. Presidente é um homem que partilha dos meus valores, e os do meu governo e vê a União de Kalmar como um país com o qual pode ter uma relação privilegiada. Sinto-me portanto com confiança suficiente em si e na sua boa vontade para com o povo kalmarense para lho fazer. Peço-lhe contudo que tal pedido seja apenas do seu conhecimento e não o divulgue de maneira alguma. É o seguinte, proponho que o sr. Presidente acolha a família real angelycana na Irlanda, sob o maior dos sigilos, mesmo do Concelho. A Irlanda é, na nossa opinião, o local mais insuspeito e como tal ideal para albergar a família real. Se o aceitar, isso não será esquecido pelo meu governo.

Boyd empalideceu visivelmente.

- Se o Conselho o descobrisse, não só seria perderia o meu cargo, como seria julgado por traição...

- Compreendo a gravidade do pedido e, se pudesse, dar-lhe-ia semanas para tomar uma decisão. Infelizmente, devido às circunstâncias tal é impossível e uma decisão terá de ser tomada o quanto antes. Horas, talvez dias se tudo correr pelo melhor...

Uma garantia lhe dou caso o aceitasse: elevaria a relação entre a União de Kalmar e a Irlanda, especialmente com o seu governo, a níveis como nenhuma outra nação no mundo. Teria ao seu dispôr do melhor que Kalmar possui para desenvolver a sua região, privilégios e benefícios especiais que o poriam na vanguarda mundial. Irlanda seria alvo de inveja de toda a URS.

Boyd não era um patriota frio e calculista como a maioria dos seus colegas do Conselho. Perante aquela proposta, a única coisa que lhe veio à cabeça foi a segurança da sua família se fosse apanhado nesta situação.

- Peço que me dê alguns minutos para fazer uns telefonemas.

Ausentou-se por quase 2 horas e regressou com a mesma preocupação no rosto.

- Falei com pessoas de confiança dentro dos SSU e o melhor que podemos fazer é o seguinte: simular uma avaria num navio de pesca islandês perto da Gronelândia, recolher a família real e mantê-la constantemente em mar alto, em águas internacionais, em segredo inclusivé do Conselho.

- Penso que isso não será eficaz. Com as movimentações militares romanas que se adivinham, estranharão que um navio permaneça tanto tempo em águas internacionais. Correremos o risco de perder a família real para as mãos dos romanos, assim como revelar o plano ao Conselho da União.... Será um risco enorme. Agradeço-lhe a oferta, mas terei de a rejeitar. Tomaremos outras medidas para defender a família real angelycana.

- Lamento não poder fazer mais, mas o risco seria demasiado elevado. Desejo-lhe boa sorte para as semanas que se avizinham, e asseguro-o de que a nossa posição dentro do Conselho será sempre no sentido de afrontar Roma e as suas políticas agressivas.

- Muito bem. Foi um prazer sr. Presidente. Esperemos que o nosso próximo encontro termine de uma forma menos tensa.

- Igualmente, iniciaremos então o que aqui foi combinado. Boa sorte com os romanos.